Menstruação, Margie Profet e umas coisas de mulheres
Margie Profet
História de mulheres incríveis: Margie Profet. Fiquei absoluta e instantaneamente fascinada e inspirada por elas - autora e teoria. E acho que vale a pena dividir aqui com vocês.
Margie Profet era uma mulher especial, de inteligência muito acima da média, mas muito mesmo. A ponto de fazer toda sua vida acadêmica, sem estar exatamente presa a ela, e sem ter nem tentado entrar num processo de doutoramento (certamente isso só iria atrapalhar o gênio criativo e livre dela), e menos ainda trabalhou em biologia sem sequer ter se diplomado nisso (estudou Filosofia e Física entre outras coisas que a interesavam). Mas isso não significou não estudar muito e com afinco, apenas se concentrou naquilo que lhe parecia interessante, e manteve sua imensa liberdade de pensamento. Acho que ta exatamente aí a chave do sucesso do seu gênio. Infelizmente como tudo na sua vida, Profet desapareceu misteriosamente e jamais foi encontrada. Assim, como sublimar! (Lembrei do Saint-Exupèry) (ATUALIZAÇÃO: ela foi encontrada, viva e na miséria e tempo depois se reintegrou com sua família, leia aqui artigo da Nature)
Segundo ela a utilidade da menstruação é muito maior do que simplesmente mandar embora um óvulo não fecundado. Em seu entendimento da evolução - como uma ferramenta altamente rebuscada e inteligente - a natureza não desperdiçaria tanto esforço e arriscaria tanto sangue e ferro assim sem uma boa razão. Essa boa razão - defende ela - é a proteção dos canais vaginais contra infecções carregadas principalmente pelos espermatozóides. Pois o útero é extremamente vulnerável a bactérias e vírus que vêm facilmente acompanhando eles. O sangue carrega então glóbulos brancos e ferro, fazendo uma espécie de faxina nos canais vaginais, enquanto passam. Quem já teve invecção vaginal (quase todas as mulheres) deve lembrar da melhora, muitas vezes mesmo cura, que a menstruação traz.
Em outras palavras, a menstruação limpa tudo e protege os mamíferos (quase todos menstruam em maior ou menor quantidade) de muita coisa que entra facilmente por este canal. A mesntruação em humanos é especialmente longa e frequente simplesmente porque fazemos muito mais sexo do que as outras espécies. Esse é o preço da diversidade que a reprodução sexuada traz.
Por causa dela, Profet defendia que a interrupção da menstruação com hormônios - por razões não médicas tanto como anti-concepcional ou por praticidade - era um absurdo da medicina atual e precisava ser discutida.
Essa idéia - entre outras fascinantes - foi publicada em renomadas revistas científicas, além da imprensa comum americana. Foi duramente criticada, mas também amplamente aceita pela comunidade (como são a maioria das novas idéias na ciência). Não há nada que refute suas teorias, assim como não há exatamente como provar que estão absolutamente certas.
Eu, da minha parte, acredito profundamente nesta forma de ver o mundo e a natureza. Faz todo sentido pra! Na minha opinião ela é uma maneira fantástica de entender nosso corpo como um sistema integrado e inteligente (muito mais inteligente do que supomos). Mais uma prova irrefutável de que devemos respeitá-lo e escutá-lo cada vez mais. Essa é a lição que tiro disso.
Incomodada ficava a sua avó...
Já que precisamos ficar menstruadas mas somos mulheres livres, práticas, felizes e... "verdes", não podemos ficar produzindo kilos e kilos de lixo em forma de absorventes. É ou não é?
Durante a vida reprodutiva, uma mulher normal pode usar até 15 mil absorventes, que demoram em média 100 anos pra se decomporem nos lixões (na melhor das hipóteses). Além de serem feitos de plástico (alo, petróleo de novo!) e de conterem outras substâncias possivelmente nocivas pro corpo também: perfumes, gels, etc.
Mas aí você vai perguntar, o que a gente vai fazer então?
Eu, por exemplo, uso o copinho coletor de sangue há mais de 5 anos! Limpo, verde, saudável, prático, fácil... e economizador! Vazou raramente e mesmo assim foi porque eu deixei por muito tempo ou mal colocado. Ele tem a forma de um copinho de silicone que você introduz como um absorvente interno. O sangue fica retido dentro deste copinho e de vez em quando é preciso ir ao banheiro, jogar o sangue na privada, passar uma águinha, e colocar de novo. Seguríssimo! Juro!
Uso também os absorventes de pano, que a gente lava junto com a calcinha no banho. Amo também.
Não temos mais desculpas, não é?
PS: Se você quiser ler mais sobre ela, posso recomendar alguns artigos muito interessantes que li (em inglês). Não encontrei literatura em português sobre.
A história do sumisso dela tem aqui.