Como deixar o sangue correr feliz
Semana passada fui assistir à dissertação de mestrado da linda da Luiza Cesario, na CoppeAd, sobre o coletor menstrual (já contei aqui como e porque amo).
Me fez entender que mudar para o coletor menstrual de copinho é bem mais do que achar um método mais "prático" ou mais saudável ou mais ecológico, é também parte de uma mudança mais profunda, mudança também da relação com nossos corpos e com o planeta. Uma mudança que faz as propagandas anteriores já não fazerem mais muito sentido: a mulher correndo de cabelo esvoaçante, calça branca e sangue azul não convence mais ninguém.
Mudou tudo!
E esta cada dia mudando mais!
Mas além dessa mudança de paradigmas, que eu acho tavez a mais importante de todas, trazemos aqui motivos fisiológicos para repensar os métodos convencionais de lidar com o sangue menstrual!
No post do blog falei de como acho importante menstruar, deixar o sangue sair mesmo. Isso significa que não menstruar não é uma opção pra mim. Primeiro por causa da bomba de hormônio que isso representa, e eu não posso brincar com os meus, depois porque como já falei no post aqui, eu acho importante e saudável que o sangue corra. Mas o fato de mudar de paradigma requer uma atenção a uns detalhes que nem sempre a gente presta. Existem mil maneiras (umas muito mais ecológicas que outras) de deixa-lo seguir seu fluxo. Tem o absorvente convencional em mil tamanhos, cores, etc, esse dos comerciais - o mais comum entre as mulheres - , seguido pelos tampôes, ou absorventes internos, o copinho (maravilhoso) e os absorventes laváveis (que uso e gosto muito também).
CHEIRO
Ah, porque o cheiro de sangue é horrível e tal...
Então, o sangue não tem cheiro nenhum pra gente, na maior parte do tempo. O que faz parecer estranho seu cheiro é exatamente o contato com o absorvente! No copinho e no absorvente lavável dificilmente o cheiro é sequer perceptível (experiência minha e de mais um monte de meninas que já conversei).
Além disso, e como se não bastasse... os métodos convencionais* são lotados de fragrancias e perfumes artificiais que são já, de cara, não recomendáveis nessa área tão sensível do corpo. As mucosas da xoxota absorvem muito do que encosta nela, e precisa manter um equilíbrio muito delicado de pH e bactérias para evitar doenças e viver feliz. E pra deixar a gente feliz também.
*chamo de convencionais e não tradicionais, porque tradicionalmente as mulheres usavam paninhos pra conter a menstruação, e isso só mudou na década de 60!
ABSORVENTES
Sobre o absorvente normal (tem uns biodegradáveis que são caros e dificieis de encontrar) sabemos que é igual às fraldas descartáveis: misturam plástico, algodão e outros materiais e fazem a reciclagem ser praticamente IMPOSSÍVEL além de poluentes... enfim, um pequeno poço de problemas ambientais. Ao mesmo tempo o padrão deconsumo nosso e portanto difícil de mudar. E talvez o mais prático e fácil de usar mesmo.
Ele pode ser substituído pelo mesmo absorvente, mas lavável e não descartável (como o da foto). Uma graça! Existem vários no mercado, feitos de tecido e com botôes pra prender na calcinha.. O uso é muito semelhante ao convencional, só que depois de usado, voce lava, deixa secar e volta a usar muitas e muitas vezes. (adoro) Minha dica é que é preciso ter pelo menos uns 4 ou 5 deles pra completar o ciclo todo.
Sobre os tampôes, a estória é mais complicada. Imagine que uma mulher use-os toda vez que menstrua. Com isso ela vai ter colocado por volta de 11 mil absorventes durante a vida (já pensou o lixo?). Agora imagine que o algodão que entra e fica em contato com essas mucosas muito sensíveis contenha traços de um ingrediente tóxico e potencialmente cancerígeno, além de disruptor hormonal, chamado dioxina , um agente usado para clarear o algodão. Há estudos que sugerem que os absorventes internos são relacionados a casos de endometriose, muitos (coloquei muita referência ali embaixo pra quem quiser olhar). Além dos perfumes super artificiais e do monte de veneno usado nas culturas de algodão, por ser uma planta muito sensível e de difícil cultivo.
Eu sei, eu sei que o copinho é uma alternativa muito diferente e muitas vezes a adaptação não é fácil. Atualmente há copinhos de tamanhos diferentes que podem se encaixar melhor aos diferentes corpos. Vale dar chances a ele. Depois de colocado, seu uso não é complicado (a mim incomoda tanto quanto um Ob normal, ou seja, nada, no meu caso). Lavo na pia e agora depois de mais de 7 anos de uso, já desenvolvi técnicas de lavar em quase qualquer banheiro público e portanto é mais prático do que os outros métodos.
Eu sempre fervo com bicarbonato e jogo um vinagre de maçã quando começa a menstruação e depois vou só lavando com sabão na pia até o fim do ciclo.
Sinto que com essa mudança, minha relação com o meu sangue mudou muito.
Achei isso bem bonito!
REFERENCIAS:
CoppeAd, UFRJ, "Conexões com o natural do corpo e do meio ambiente no contexto de práticas de higiene feminina", LUIZA CESARIO ALVIM GOMES
http://www.safecosmetics.org/get-the-facts/healthandscience/cumulative-exposure-and-feminine-care-products/
National Research Center for Women and Families Web site, “Tampon Safety,” by Susan Dudley, PhD, Salwa Nassar, BA, Emily Hartman, BA. Last accessed September 21, 2010. http://www.center4research.org/2010/04/tampon-safety/
FDA Web site: Tampons and Asbestos, Dioxin, & Toxic Shock Syndrome http://www.fda.gov/MedicalDevices/Safety/AlertsandNotices/PatientAlerts/ucm070003.htm
Thornton, Joe. Pandora’s Poison: Chlorine, Health and a New Environmental Strategy, MIT Press 2000. Page 60, Table 2.1, “International Agency for Research on Cancer classification of organochlorine carcinogens.”
Thornton, Joe. Pandora’s Poison: Chlorine, Health and a New Environmental Strategy, MIT Press 2000 Page 88, Table 2.2, “Effects of organchlorines on hormones, neurotransmitters, and growth factors.”
Rier, S and WG Foster. Environmental Dioxins and Endometriosis.” Toxicological Sciences, 2002.
Center for Health, Environment and Justice sign-on letter to President-elect Obama, January 2009. Last accessed September 7, 2010. http://www.chej.org/documents/Dioxin_Letter_To_Obama.pdf
Gibbs, Lois Marie. Dying From Dioxin: A Citizen’s Guide to Reclaiming Our Health and Rebuilding Democracy. South End Press, 1995. pp73-74.
World Health Organization, “Dioxins and their effects on human health.” Last accessed September 7, 2010. http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs225/en/index.html
PANNA: “Problems with conventional cotton production.” Last accessed September 7, 2010. http://www.panna.org/node/400
World Health Organization, Fourth Session of the Intergovernmental Forum on Chemical Safety, 1 – 7 November 2003. http://www.who.int/ifcs/documents/forums/forum4/en/10w_f4_en.pdf
The Green American, “The Case for Organic Cotton.” Feature article – Sept/Oct 2006. Last accessed September 21, 2010. http://www.greenamericatoday.org/pubs/realgreen/articles/organiccotton.cfm
Food and Drug Administration, Guidance for Industry and FDA Staff – Menstrual Tampons and Pads: Information for Premarket Notification Submissions (510(k)s). Issued July 27, 2005. Last accessed October 5, 2010. http://www.fda.gov/MedicalDevices/DeviceRegulationandGuidance/GuidanceDocuments/ucm071781.htm